segunda-feira, 18 de maio de 2015


Já não há espaço para tristezas
Lamentações
Já não há espaço para esperanças
expectativas

Está na hora de me erguer
De me encontrar
De colocar uma armadura
De vencer
De derrotar o mau olhado
O mau presságio

Quero viver
Ter uma vida
Ser alguém

Fartei-me de ti
De viver na sombra
De sobras
De viver no reverso da moeda
Que ninguém vê

Fartei-me da esmola mal dada
E que me fazia mexer cada músculo do meu ser
Sem que me apercebesse


Quero saber o que é viver

quinta-feira, 5 de março de 2015

Nada me inquieta
Procuro algo que não sei achar
Não consigo fazer com que nada traga alento ao meu ser

Sinto que o tempo está a passar
E nada se acende em mim
A derradeira vontade, a verdadeira certeza que estou em mim

Tenho um véu a tapar-me os horizontes,
A quebrarem a esperança, a prenderem-me as ânsias de viver

Choro então
Lavo-me em lágrimas que não sinto cair
Tento encontrar o meu centro, a minha fonte de luz

Imploro à minha alma que tenha piedade de mim
Peço a Deus
Quero encontrar-me
Tentar de novo

Que haja esperança
Que as forças ancestrais se unam em prol do meu bem
Que seja capaz de sentir as lágrimas a correr, o coração a palpitar, as pernas a quebrar de frio

Saio à rua arrastada pela obrigação
Enquanto o meu consciente dorme
Na tentativa vã de se metalizar em despertar

As árvores dançavam perante mim, ao vento
O qual me batia na cara e me faz despertar
Eu resisto
Não quero acordar
Não me quero tentar expressar em vão
Como habitualmente
Ser encarada como alguém indiferente

Quero poder ler as mentes
Poder saber o que observam
Em que pensam
Que opiniões tem
O que é para elas o mundo
O que é para elas viver
Afinal o que é isto tudo que dizemos ser



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Não sei se o céu chora de si próprio
Se chora da desgraça a que se assume

À meia-luz, escreves tu as cartas aos amantes
Pulveriza-as de desejo
De uma ânsia carnal ardente
De pensamentos inimagináveis do teu ser

A tua vontade ilustra os corpos despidos de ressentimentos
Que desgraçadamente queres possuir
Fazendo-te perdoar as mágoas que te ofereceram em prazeres de outrora

Sonhas com um homem fraco
Farto de si
Farto de se ter

Ficas insano
Com as linhas curvilíneas que fazem transparecer paixões romanceadas
Que sempre desejaste ter

De espírito quente
Contemplas as virtudes dos inocentes
Condenas os amores de mão-beijada
E derramas-te com os usos que lhes querem dar

Com as mãos frias e odorizadas de tabaco
Destróis estas palavras
Na eventualidade de não passar de um delírio do teu ser
De um sonho consciente
Que não queres reviver


Ó cidade esta que me troca os sentidos
Que me atordoa no meio da multidão
E que me faz querer escapar dela

Sinto uma tremenda necessidade de fugir
Escapar do constante
Daquilo que já não é novo aos meus olhos

Preciso de alento
De prazeres novos para os meus sentidos

Já não sinto vontade de vaguear em ti
Tomar café no Camões
Ouvir fado em Alfama
Nem de comer castanhas no Rossio

Encontro-me farta de me escutar a mim própria
Farta de ouvir falar o lisboeta
De andar no Metro e na Carris
E não conseguir abalar daqui

Necessito de um bilhete de ida,
Para uma capital europeia qualquer

Exercitar os cheiros e os aromas vadios
E as formas que me são alheias
Até que a coragem volte a emanar em mim
E me desperte

Algo novo

domingo, 14 de dezembro de 2014

Queria ter o privilégio
De me poder chamar artista.
Ficar grata,
Todos os dias,
Pelo dom que Deus me deu.
Ser aplaudida,
Fazerem-me a vénia
Poder abrir o botão das calças e arrotar de despreocupações,
Estar eternamente saciada.
Não pedir ou ambicionar nada,
A não ser a prestígio,
O reconhecimento de ter criado algo.
Acordar todos os dias,
Sem a inquietação de ter de conseguir criar haveres,
Os quais ainda mais ninguém criou.
Ter tempo para me deitar ao sol,
Ou simplesmente esquecer que há mundo.
Para além das minhas dissonâncias
Sobre pseudo-arte e outras tristezas várias,
Queria ter tempo para criar algo a sério,
E deixar de invejar aquilo que acho que outros fazem não tão bem,
Os quais tem tempo para tal.
Anseio apenas ser uma singela escritora de romances de cordel,
Solitária entre o reconhecimento de amores vadios,
Não meus.
Mas daqueles a que eu chamo gente.
Personagens imaginadas,
Que retratam aquilo que eu eventualmente queria ser em tempos,
Ou quererei ser,
Inconscientemente.
Aquilo que não tive partido (nem coragem),
Para o poder fazer.
Resta-me agora ser
Uma miserável senhora que se prende nos imaginários
Que criam apetites ferozes
A indivíduos desconhecidos.
Uma espetadora de vidas que eu próprio crio.
Uma derrotada.
Uma contranatura.

Uma incompreendida.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sinto-me como se estivesse dentro de uma cápsula
Com a vista embaciada,
Enclausurada
Onde ninguém me reconhece

Vejo apenas vultos,
Sombras frenéticas
Não consigo fixar os olhares por que passo

Falseiam-se de cores, de sorrisos,
Feições

Quero desvendá-los, hipócritas
Atores da sua própria ação
Infiéis às suas crenças
Temem apreciação

Pensamentos dúbios, veementes

As dissonâncias dos outros desabam diante dos meus olhos turvos
E secam-nos,

Como se de um deserto árido se tratassem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Reconforto-me nas memórias do futuro
Na esperança da euforia calma
No calor dos teus abraços à distância

Da alegria apareceu mais alegria
Ânsias de plantar o presente fértil
De fazer canções de embalar
Para acordar os sentidos cansados

Já oiço a música de fundo
Já vejo estantes a abarrotar de livros
Já te imagino a fumar à janela
E um gato a reconfortar-nos o colo

A simplicidade da plenitude efémera
A vontade de criar